
O conhecimento a respeito da Covid-19 aumentou muito desde o início da pandemia. Todos os dias são publicados novos estudos que melhoram nossa compreensão de como a doença funciona e como devemos combatê-la. Inicialmente as únicas armas que possuíamos era um afastamento de tudo e de todos, com poucas opções terapêuticas. Ainda não sabemos o suficiente para deixar todos tranquilos, mas melhoramos muito. Diante disso, muitos lugares começaram uma reabertura paulatina do comércio e das atividades cotidianas. Mas já é seguro voltar ao trabalho?
Este foi o tema de uma carta enviada ao New England Journal of Medicine (NEJM) que tentava responder exatamente essa questão.
Com vários estados e municípios com ordens de quarentena e até lockdown, alguns serviços e negócios foram poupados do fechamento por serem considerados essenciais. Os trabalhadores desses serviços deveriam continuar saindo de casa e correndo o risco de serem infectados pelo novo coronavírus. E foi o que aconteceu. Em vários lugares foi detectado um grande número de vítimas entre os trabalhadores de saúde. O Center for Disease Control (órgão americano que controla estatísticas e procedimentos para prevenção e controle de doenças) chegou a estimar que 11% dos casos positivos são de trabalhadores da área da saúde. Mas não foram só essa categoria que sofreu. Há muitos relatos de pessoas infectadas no caminho ao trabalho, mercados e em lugares difíceis de manter um distanciamento social. Diante desse cenário, deveríamos aconselhar pessoas de alto risco a pararem de trabalhar?
Para melhor compreensão do problema, se o risco de um trabalhador ser contaminado e morrer chegar a 10%, significa que sua mortalidade ocupacional é de 1:100 - dez vezes mais que a profissão mais perigosa dos Estados Unidos, a de pescadores comerciais. No entanto, não basta dizer a alguém para simplesmente não trabalhar. O autor da carta defende uma abordagem com três pilares:
Parâmetros para orientar os pacientes a não irem trabalhar.
Políticas urgentes para garantir uma proteção financeira para esses trabalhadores.
Planejamento guiado cientificamente para a retomada do trabalho.

O autor sugere parâmetros baseados no risco de ser infectado, no risco de morte e em três procedimentos. Os cuidados a serem tomados são bastante conhecidos, e envolvem (A) usar máscara fora de casa, higiene das mãos e usar equipamento de proteção pessoal quando necessário; (B) manter os cuidados do "A", mas também pensar em como diminuir os riscos de ser infectado e, se possível, parar de trabalhar; (C) considerando o alto risco, é aconselhável parar de trabalhar.
Dessa maneira, pacientes com alto risco de morrer pela infecção do novo coronavírus (pessoas mais idosas ou jovens com condições de alto-risco como obesidade, diabetes, hipertensão) devem considerar parar de trabalhar, enquanto pessoas jovens sem nenhuma condição de alto-risco podem continuar trabalhando contanto que tomem os devidos cuidados.
Eu sei que nem todos conseguirão parar de trabalhar para evitar uma exposição ao vírus. Políticas de segurança financeira não dependem de nós e o planejamento para aumentar a segurança no trabalho ainda está longe do ideal, mas como sociedade devemos nos ajudar e providenciar maneiras para que esses trabalhadores fiquem seguros. A pandemia não acabou e o vírus ainda está circulando, e embora seja muito tarde para um sem número de pessoas, ainda podemos salvar muitas vidas nessa retomada da rotina.