
Existem poucas coisas mais deliciosas e prazerosas do que ouvir o coraçãozinho do seu bebê batendo no ultrassom. Pra muita gente, ir à clínica de ultrassom é um evento e às vezes acaba virando motivo de conflito familiar porque todo mundo quer assistir e geralmente o número de acompanhantes é limitado. Então por que não fazemos esse exame toda semana? Tem algum perigo em fazer tantos exames? Quais são os ultrassons obrigatórios? Quando eu faço o próximo? Vamos tentar responder todas essas perguntas nesse artigo, mas se no final restar alguma dúvida, deixa ela nos comentários que eu responder com o maior prazer!
Protocolos, protocolos, protocolos...
Se às vezes parece que os médicos estão batendo cabeça e ninguém sabe exatamente quantos e quais ultrassons precisam ser feitos, é porque é uma bagunça mesmo. O ultrassom foi uma tecnologia revolucionária na obstetrícia. De uma hora pra outra podíamos ver um bebê se formando em tempo real, saber suas condições de saúde e dar uma espiada em seus hábitos e reações. Tantas informações novas provocaram muitas reações diferentes no mundo médico - o que fazer com esse conhecimento? Para muitos, a Obstetrícia já estava muito bem como estava antes e como sempre foi, e o ultrassom é apenas uma curiosidade, no máximo um exame complementar. Para outros, como eu, ele descortinou um mundo de possibilidades de uma nova especialidade voltada especialmente para a saúde do bebê em formação, a Medicina Fetal.
Dessa colisão de visões surgiram vários protocolos em como utilizar essa ferramenta na gestação. Para o primeiro grupo o foco deve ser a mãe, com consultas e acompanhamento pré-natal voltado para a sua saúde. Para o bebê resta pouca atenção e uma pequena anotação no cartão do pré-natal: batimentos cardíacos e movimentos fetais. Para o segundo grupo o bebê é o grande astro das consultas e a mãe é só um útero ambulante. Para esse grupo a mãe se resume a artérias uterinas e colo do útero. Mas por que não misturar os dois? Essa é exatamente a proposta de uma nova especialidade médica que vem se consolidando cada vez mais: a Medicina Materna Fetal.
Para os especialistas materno-fetais o que importa é o conjunto. Não existe mãe sem bebê e bebê sem mãe, e em cada consulta de pré-natal os dois precisam receber o mesmo nível de atenção. Parece um conceito bonito, certo? Mas é muito difícil e caro implantar esse modelo. Para dar certo, toda consulta de pré-natal deveria ser acompanhada por um ultrassom também, afinal é o único jeito de examinarmos o bebê em formação, o que torna as consultas mais caras. Os aparelhos tem um custo elevado de compra e operação e existem poucos profissionais que sabem usá-los. Mais exames também levam a mais intervenções, muitas delas desnecessárias, aumentando ainda mais o custo total do pré-natal.
Para tentar resolver essa situação existem muitos protocolos de diferentes sociedades de especialistas e organizações de saúde. O objetivo é diminuir os custos e manter a qualidade e segurança num mínimo aceitável. Eles possuem várias diferenças entre si, então não se assuste se o seu médico pedir mais ou menos ultrassonografias para você, ele só deve estar seguindo um ou outro protocolo ou escola.
Antes de continuarmos, tenha em mente o seguinte: ULTRASSOM É PERFEITAMENTE SEGURO NA GESTAÇÃO E NÃO FAZ MAL PARA O BEBÊ! Sério, se você quisesse poderia fazer ultrassom todos os dias sem perigo.
Tipos de ultrassom e quando fazê-los
Para facilitar, eu vou colocar o nome do exame, quando fazer, por onde fazer, os objetivos e qual é o mínimo que deve constar em cada laudo.
Ultrassom Obstétrico Inicial.
Quando: entre 6 e 10 semanas.
Por onde: transvaginal.
Objetivos:
determinar o local da gestação (se é no útero ou fora do útero)
confirmar a idade gestacional
confirmar vitalidade do(s) bebê(s)
saber quantos bebês (são gêmeos ou é um só mesmo?)
investigar possíveis riscos de abortamento.
Mínimo: local da gestação (tópica ou ectópica), CCN (comprimento), BCF (frequência cardíaca), número de embriões, vesícula vitelínica, saco gestacional, presença ou não de hematomas.
Observação: às vezes não é possível encontrar um embrião nesse exame, só o saco gestacional. Outras vezes pode acontecer de encontrar um embrião sem batimentos cardíacos. Para se ter certeza de que aquela gestação não irá evoluir é sempre necessário confirmar com exames laboratoriais, mas alguns sinais no ultrassom dão uma dica de que as coisas não estão indo bem:
embriões com 7 ou mais milímetro de CCN obrigatoriamente precisam apresentar batimentos cardíacos;
um saco gestacional com 25 ou mais milímetros de diâmetro obrigatoriamente precisam ter um embrião dentro dele.
Se a sua gestação não tiver essas características é melhor repetir o exame dali algumas semanas para confirmar os achados.
Ultrassom Morfológico de 1º Trimestre.
Quando: CCN entre 45 e 84 mm, o que dá entre 10 +3 e 13 +6 semanas, aproximadamente; o melhor período é depois das 12 semanas.
Por onde: maioria das vezes pela via abdominal, mas pode virar um transvaginal.
Objetivos:
checar a anatomia maior do bebê.
confirmar o bem-estar do bebê.
calcular risco individual para síndromes cromossômicas.
calcular risco individual para pré-eclâmpsia.
Mínimo: CCN, BCF, descrição da anatomia fetal com medidas biométricas, Translucência Nucal, diâmetro da bexiga, Doppler das Artérias Uterinas.
Outras medidas como Osso Nasal, Ducto Venoso, Regurgitação Tricúspide, Prega Nasal, Ângulo da Face, Translucência Intracraniana etc são marcadores complementares para o risco de síndromes cromossômicas e possuem peso e importância menores no cálculo do risco, e portanto não são obrigatórios.
Ultrassom Morfológico de 2º Trimestre.
Quando: entre 20 e 24 semanas, sendo que o período ideal após as 22 semanas.
Por onde: pelo abdômen.
Objetivos:
confirmar o bem-estar do bebê
checar anatomia fina (se há alguma mal-formação)
Mínimo: Vixi, é bastante coisa. É o exame mais longo da gestação e deve seguir critérios bem estabelecidos. Não vou colocar tudo pra não deixar o artigo muito longo.
Ultrassom Transvaginal para Medida do Colo Uterino
Quando: entre 20 e 24 semanas.
Por onde: transvaginal (pois é...)
Objetivos: medir o comprimento do colo uterino. Valores abaixo de 25 mm são considerados alterados e aumentam bastante o risco de parto prematuro. Outras características importantes, mas não obrigatórias, é a presença ou não de "Sludge", Eco Glandular Endocervical e afunilamento. Esse também é o exame ideal para checar a distância entre a placenta e o colo uterino.
Mínimo: comprimento do colo uterino em milímetros.
Ultrassom Obstétrico com Doppler
Quando: após as 10 semanas até o nascimento.
Por onde: pelo abdômen.
Objetivos:
checar bem-estar fetal
confirmar posição do bebê
estimar o peso fetal
acompanhar crescimento e desenvolvimento do bebê
investigar algum fator de risco
Mínimo: Índice Cérebro-Placentário ou Doppler da Artéria Umbilical pelo menos, peso fetal estimado, biometria, posição/apresentação.
Neurossografia
Quando: após as 10 semanas, sempre que houver suspeita de malformação neurológica.
Por onde: pode ser pelo abdômen e/ou transvaginal.
Objetivo: é um exame feito por um especialista em anatomia neurológica fetal e serve para investigar malformações neurológicas.
Mínimo: depende da malformação em questão.
Ecocardiodopplergrafia fetal
Quando: após as 10 semanas, sempre que houver suspeita ou alto risco para malformação cardíaca.
Por onde: pelo abdômen.
Objetivo: também feito por especialista em cardiologia fetal, investiga a função e possíveis malformações cardíacas, especialmente em pacientes com alto risco para esse problema, como as diabéticas, por exemplo.
Mínimo: existe uma descrição padrão desse exame, mas pode ser modificado para alguma malformação específica.
Perfil Biofísico Fetal
Quando: após as 28 semanas até o nascimento.
Por onde: pelo abdômen.
Objetivo: é um ultrassom mais simples, voltado a vigiar o bem-estar fetal. Não estima o peso do bebê.
Mínimo:
Movimentos respiratórios
Movimentos espontâneos de membros
Líquido Amniótico
Descrição do tônus fetal
** Existe um Perfil Biofísico Fetal modificado, que inclui também a Cardiotocografia.
Perguntas mais comuns
Um apanhado das perguntas mais comuns que recebo sobre esse assunto.
E seu eu tiver que fazer só um ultrassom na minha gestação inteira?
Em muitos lugares o acesso ao ultrassom é muito limitado. Aqui em São Paulo, por exemplo, as gestantes de "baixo risco" que fazem o pré-natal pelo SUS só podem fazer um único exame a gestação toda! Daí o melhor período é entre 18 e 20 semanas. É um equilíbrio entre uma determinação mais precisa da idade gestacional e a detecção de anomalias fetais.
E o Morfológico de 3º Trimestre?
Não existe. Teoricamente serviria para checar a anatomia do bebê após as 28 semanas, pois existem problemas anatômicos fetais que só aparecem nessa fase. Mas pelo Manual da FEBRASGO (Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia) como no Brasil não é permitido ao profissional de enfermagem realizar ultrassom obstétrico, todos os ultrassons obstétricos devem ser considerados como "morfológicos", ou seja, o ultrassonografista tem a obrigação de checar a anatomia do bebê em todos os exames. Infelizmente isso não acontece sempre.
Quando é possível saber o sexo do bebê pelo ultrassom?
No exame Morfológico de 1º Trimestre já é possível ter um bom palpite do sexo fetal, mas ainda não é certeza absoluta. Essas chances melhoram consideravelmente à partir das 16 semanas, e é obrigatório ser visualizado a partir das 20 semanas. É importante lembrar que nenhuma sociedade no mundo recomenda fazer ultrassom só para descobrir o sexo do bebê. Na verdade, eles até mesmo recomendam contra falar o sexo para os pais!
Quando é possível fazer o ultrassom 3D/4D/5D ?
Existem indicações médicas para o ultrassom tridimensional, como o estudo do cérebro, por exemplo. Mas a maioria dos pais querem mesmo é ver o rostinho do bebê. Pois bem, esse exame pode ser feito com qualquer idade gestacional, mas o rostinho fica mais legal depois das 28 semanas. Um bom 3D do rosto depende de muitos fatores, como a posição do bebê, presença de estruturas na frente do rosto e até mesmo a quantidade de líquido amniótico! Então não fiquem chateados se ele não quiser mostrar o rostinho no ultra!
Comer chocolate ajuda?
Na verdade, não necessariamente. Em algumas situações é interessante que o bebê se mova bastante, enquanto em outras é melhor ele ficar quietinho. E não precisa ser chocolate, pode ser qualquer comida!
Meu bebê está encaixado?
A melhor maneira de saber se o seu bebê encaixou ou não é pelo toque vaginal. Já foram descritas algumas técnicas para esse tipo de avaliação, mas ainda não substituem o bom e velho toque vaginal.
nossa muitooo bomm