
Depressão não é uma "tristeza profunda". Está mais para uma vida sem gosto, sem cheiros e sem cor.
A depressão e a ansiedade na gestação ou no puerpério são mais comuns do que as pessoas imaginam. Um estudo de 2011 encontrou que 9% das gestantes e 10% das puérperas sofriam com algum tipo de transtorno depressivo grave. Depressão é uma doença, assim como uma úlcera no estômago ou uma pedra nos rins. Não é uma tristeza ou preguiça. Não é cansaço. É pior, é uma incapacidade de sentir, como se as cores não existissem, e se não for tratada adequadamente ela piora e causa efeitos devastadores na vida da pessoa. Por isso todos os obstetras e outros responsáveis pelo pré-natal devem ajudar as mãezinhas a identificar os sintomas de depressão e encaminhar para tratamento adequado.
Esse vídeo me ajudou muito a entender minha própria doença -- a depressão.
A depressão é a doença do humor mais comum que existe, e é duas vezes mais comum em mulheres do que em homens, principalmente entre os 20 e 40 anos. aparece em 1 a cada 7 mulheres grávidas ou nos primeiros 12 meses após o parto.
O suicídio materno mata mais do que a hemorragia e a pressão alta da gestação.
Fatores de risco para Depressão na gestação e puerpério
Durante a gestação
Ansiedade materna
Estresse do cotidiano
História de depressão
Falta de suporte social
Gestação não desejada
Violência doméstica
Baixa renda
Pouco estudo
Tabagismo
Solteira
Relacionamentos de baixa qualidade
No puerpério
Depressão durante a gestação
Ansiedade durante a gestação
Estresse excessivo durante a gestação ou no início do puerpério
Experiência de parto traumática
Parto prematuro
Recém-nascido internado na UTI / CTI neonatal
Baixos níveis de suporte social
História de depressão
Dificuldade para amamentar
Como saber se tenho depressão ou ansiedade?
Existem muitas ferramentas que você pode usar. Uma das mais usadas é o Questionário de Auto-Avaliação de Edinburgo (EPDS na sigla em inglês), que consiste em dez perguntas com quatro opções cada que são pontuadas de 0 a 3, de acordo com a presença ou intensidade dos sintomas: humor deprimido ou disfórico (ahn?), distúrbio do sono, perda do prazer, diminuição do desempenho, culpa e ideias de morte ou suicídio. Foi desenvolvido na Grã-Bretanha e traduzido para muitas línguas, sendo amplamente utilizado em todo o mundo.
Questionário de Auto-Avaliação para depressão em gestantes ou no pós-parto
Você deve preencher sozinha, sem acompanhantes e sem ninguém ler para você. Seja sincera e considere não apenas como você está se sentindo hoje, mas também nos último sete dias.
Eu tenho sido capaz de rir e achar graça das coisas:
[ ] Como eu sempre fiz.
[ ] Não tanto quanto antes.
[ ] Sem dúvida, menos que antes.
[ ] De jeito nenhum.
Eu sinto prazer quando penso no que está para acontecer no meu dia-a-dia:
[ ] Como sempre senti.
[ ] Talvez, menos que antes.
[ ] Com certeza menos.
[ ] De jeito nenhum.
Eu tenho me culpado sem necessidade quando as coisas saem erradas:
[ ] Sim, na maioria das vezes.
[ ] Sim, algumas vezes.
[ ] Não muitas vezes.
[ ] Não, nenhuma vez.
Eu tenho me sentido ansiosa ou preocupada sem uma boa razão:
[ ] Não, de maneira alguma.
[ ] Pouquíssimas vezes.
[ ] Sim, algumas vezes.
[ ] Sim, muitas vezes.
Eu tenho me sentido assustada ou em pânico sem um bom motivo:
[ ] Sim, muitas vezes.
[ ] Sim, algumas vezes.
[ ] Não muitas vezes.
[ ] Não, nenhuma vez.
Eu tenho me sentido esmagada pelas tarefas e acontecimentos do meu dia-a-dia:
[ ] Sim. Na maioria das vezes eu não consigo lidar bem com eles.
[ ] Sim. Algumas vezes não consigo lidar bem como antes.
[ ] Não. Na maioria das vezes consigo lidar bem com eles.
[ ] Não. Eu consigo lidar com eles tão bem quanto antes.
Eu tenho me sentido tão infeliz que tenho tido dificuldades para dormir:
[ ] Sim, na maioria das vezes.
[ ] Sim, algumas vezes.
[ ] Não muitas vezes.
[ ] Não, nenhuma vez.
Eu tenho me sentido triste ou arrasada:
[ ] Sim, na maioria das vezes.
[ ] Sim, muitas vezes.
[ ] Não muitas vezes.
[ ] Não, de jeito nenhum.
Eu tenho me sentido tão infeliz que tenho chorado:
[ ] Sim, quase o tempo todo.
[ ] Sim, muitas vezes.
[ ] De vez em quando.
[ ] Não, nenhuma vez.
A ideia de fazer mal para mim mesma passou pela minha cabeça:
[ ] Sim, muitas vezes, ultimamente.
[ ] Algumas vezes nos últimos dias.
[ ] Pouquíssimas vezes, ultimamente.
[ ] Nenhuma vez.
Como fazer a pontuação:
Questões 1, 2 e 4:
Se você marcou a primeira resposta, não conte pontos;
Se você marcou a segunda resposta, marque um ponto;
Se você marcou a terceira resposta, marque dois pontos;
Se você marcou a quarta resposta, marque três pontos;
Questões 3, 5, 7, 8, 9, 10:
Se você marcou a primeira resposta, marque três pontos;
Se você marcou a segunda resposta, marque dois pontos;
Se você marcou a terceira resposta, marque um ponto;
Se você marcou a quarta resposta, não conte pontos.
Se o total de pontos for maior ou igual a dez, você está no grupo de alto risco para desenvolver depressão e deve procurar ajuda médica.
Como e quando buscar ajuda?
Existe evidência científica suficiente para dizer que já existe benefício só de fazer o questionário e entender a sua doença. Mas só isso às vezes não é suficiente. Fazer exercícios, tomar sol, fortalecer sua "rede de proteção" social com relacionamentos fortes e saudáveis também ajuda. E quando tudo isso ainda não é o suficiente então está na hora de procurar ajuda médica, o psiquiatra.
Existe muito preconceito com doenças e medicações psiquiátricas, e se esse for o seu caso, eu peço para você deixar esse preconceito de lado. Sua qualidade de vida e seus relacionamentos valem mais do que qualquer preconceito infundado. Primeiro, depressão e ansiedade não é loucura, é doença, e existe remédios que podem te ajudar.
Se você não consegue procurar um psiquiatra particular ou pelo seu convênio, as UBS estão preparadas para te encaminhar para um CAPS - mas a fila pode ser grande. Não se auto-medique — tomar remédios por conta própria — antidepressivos sozinhos não irão fazer seu "cachorro preto" diminuir, mas um aliado a um bom acompanhamento com certeza você dará a volta por cima.