
Que a diabetes é um problema com açúcar acho que todo mundo já sabe, mas como isso acontece?
A quantidade de açúcar (glicose) no sangue é controlada rigidamente pelo pâncreas. Quando os níveis sobem muito ele produz um hormônio chamado insulina, que entre outras coisas, aciona as células do nosso corpo e as obriga a "comer" esse excesso de glicose. Na diabetes esse sistema não está funcionando bem. Em algumas pessoas as células ficam rebeldes e começam a se recusar a cumprir as ordens do pâncreas, que passa a produzir cada vez mais insulina para forçar ainda mais as células a consumir essa glicose, chamamos essa fase de resistência à insulina. Chega um momento que apesar de todo o esforço do pâncreas e quantidade alta de insulina, as células simplesmente não obedecem mais e a pessoa passa a sofrer de diabetes.
A placenta também produz vários hormônios, e muitos deles causam uma elevação nos níveis de glicose no sangue naturalmente. O pâncreas dá conta do recado na maioria das mulheres, mas em algumas essa elevação natural encontra um sistema já rebelde e sobrecarregado, causando a Diabetes Gestacional. Os hormônios placentários começam a fazer diferença na segunda metade da gestação. Então por que fazemos exames para diabetes no início da gestação? O objetivo é encontrar aquelas mulheres que são diabéticas ou possuem um alto risco para Diabetes Gestacional, e não sabem! Esse risco aumenta com a idade e com o peso da mulher no momento em que engravida.
Como diagnosticar Diabetes Gestacional?
Acho que existem poucas coisas em Medicina com mais protocolos do que o diagnóstico de diabetes gestacional. Sério, cada país tem seu próprio protocolo, adaptações, protocolos de sociedades médicas e opiniões. Não ficaria surpreso se cada médico seguisse um protocolo diferente. Então vou apresentar um só, o da American Diabetes Association, que é o mais aceito e mais praticado no Brasil (talvez não pelos motivos certos, mas enfim...). Existe também o protocolo do Ministério da Saúde para todo o SUS, mas cada município tem liberdade para fazer do seu jeito, então não fiquem assustadas se os exames que você fez sejam muito diferentes do que eu apresentar aqui. Não está errado, só é diferente.
Primeiro Trimestre. O exame é a Glicemia de Jejum (GJ ) com 12 a 14 horas de jejum. O limite é 92 mg/dL. Existe a possibilidade de se pedir a Hemoglobina Glicada ao invés, sendo o limite máximo 6,5%
Entre 24 e 28 semanas. O exame é o Teste Oral de Tolerência à Glicose (TOTG) com sobrecarga de 75g de glicose. As medidas de glicemia devem ser feitas em jejum (antes da sobrecarga com glicose), 1 hora após e 2 horas após. Como muitas gravidinhas podem comprovar, esse é um exame maravilhoso que todas saem felizes do laboratório. Mentira, é horrível.
Os valores limites são 92 mg/dL para o jejum, 180 mg/dL para a 1ª hora e 153 mg/dL para a 2ª hora. Basta um único valor alterado para fechar o diagnosticado para Diabetes Gestacional. "Mas doutor, meu exame deu 181 na 1ª hora e os outros valores deram normais" - pois é, está alterado e você tem Diabetes Gestacional.
E quem não pode/quer fazer esse exame? Algumas mulheres passam muito mal com esse exame e outras, como as que fizeram a cirurgia bariátrica, não podem fazer o TOTG. Existem outras opções para essa parcela de gestantes.
- Fazer várias medidas de Glicemia de Jejum;
- Glicemia de Jejum e glicemias após 1h e 2h das refeições.
"Meu médico acha que eu tenho diabetes porque o meu bebê é grande ou o líquido está aumentado, e me pediu para repetir esse exame. Está certo isso?"
Na maioria dos protocolos você não precisa repetir o teste se teve um exame normal entre 24 e 28 semanas. Mas vários estudos têm mostrado que para algumas pessoas vale a pena repetir os testes. Se você tem uma suspeita de um bebê muito grande ou um excesso de líquido amniótico, então sim, está certo repetir o exame, embora ainda seja uma conduta discutível.