
Como muita coisa em Obstetrícia, a indução do trabalho de parto é rodeada de "achismos" e de mitos sem sentido que muitas vezes atrapalham e mesmo prejudicam o cuidado com as pacientes. Por isso resolvi abordar esse tema de uma maneira a oferecer a melhor evidência científica possível de maneira simples, abordando as perguntas mais comuns.
As informações desse artigo foram baseadas em duas revisões publicadas na AJOG MFM e refletem o que há de mais novo e moderno atualmente nessa área. Você podem encontrar esses artigos aqui e aqui.
Quais são os métodos? Como é feita essa indução?
Gosto de separar em duas etapas: o preparo do colo e as contrações;
A primeira parte consiste em usar medicações ou técnicas para amolecer, encurtar e entreabrir o colo do útero. Nessa fase as contrações são esporádicas e desnecessárias, mas bem-vindas. Pode durar várias horas e não costuma doer. Os métodos mais usados no Brasil são o de Krause e o Misoprostol.
- Catheter de Foley ou Método de Krause.
- Misoprostol.
- Dinoprostone.
- Mifepristone.
Não é o meu objetivo explicar essas técnicas em detalhes hoje, mas talvez eu escreva mais em outro artigo separado.
Com quantas semanas posso fazer a indução do trabalho de parto?
Em geral, a indução do trabalho de parto não deve ser feita antes de 39 semanas, a não ser que haja uma indicação médica formal para isso, ou seja, que o risco seja menor. Trabalhos recentes e de boa qualidade mostraram que o melhor momento para se fazer a indução é entre 39 e 39 6/7 semanas, pois diminui bastante as chances de sofrimento fetal, complicações de pressão arterial materna, parto cesariano, mecônio e óbito intrauterino se comparado com as gestações em que se deixa entrar em trabalho espontâneo até as 41 semanas. (Referências aqui e aqui).
Segundo o famoso estudo ARRIVE, os critérios para se induzir um trabalho de parto por vontade da mulher, sem uma indicação médica formal, são os seguintes:
Certeza da idade gestacional.
Sem contraindicações ao parto vaginal (ver abaixo).
Ausência de condições maternas ou fetais que se beneficiem de um parto mais precoce.
Quando NÃO devemos induzir o trabalho de parto e fazer a cesárea?
E nesses casos, devemos escolher o parto cesariano.
Apresentação fetal transversa ou oblíqua (mal-posicionamento do bebê) -- cesárea entre 39 e 40 semanas.
Placenta previa (placenta na saída do útero) -- cesárea entre 36 e 38 semanas.
"Iteratividade" (mais de duas cesáreas anteriores) -- cesárea entre 38 e 40 semanas.
Acretismo placentário (placenta anormal, que invade o útero) -- cesárea entre 34 e 36 semanas.
Vasa praevia (vasos sem proteção no caminho do bebê; risco de hemorragia grave) -- cesárea entre 34 e 37 semanas.
Cesárea longitudinal anterior (praticamente não fazemos mais no Brasil) -- cesárea entre 36 e 38 semanas.
Miomectomia (retirada de miomas) anterior com cesárea -- cesárea entre 37 e 38 semanas.
Ruptura uterina prévia -- cesárea entre 36 e 38 semanas.
Herpes genital ativa -- cesárea entre 39 e 40 semanas.
HIV com carga viral maior que 1000 cópias por mL -- cesárea entre 38 e 39 semanas.
Sofrimento fetal -- cesárea de emergência!!
Prolapso do cordão umbilical -- cesárea de emergência!!
Claro que existem outras situações que exigem uma cesárea, mas essas são as mais comuns. Nessas situações não é recomendável que se insista num parto vaginal pelo risco que essa via de parto oferece tanto à saúde da mãe como à do bebê.
Repare que não coloquei algumas indicações famosas e comuns de indicação de cesárea, como as gestações gemelares, bebês acima de 4 kg e crianças com restrição do crescimento intra-uterino. A verdade é que essas indicações possuem pouca evidência científica, mas são baseadas num bom-senso. Só lembrando que hipertensão, diabetes, infecção materna e colestase não são indicações para cesárea.