História da Obstetrícia: Emanuel A. Friedman, o pai do partograma.

Professor emérito de Obstetrícia, Ginecologia e Biologia Reprodutiva da Escola de Medicina de Harvard, ele é famoso por várias contribuições à obstetrícia, entre elas a famosíssima "Curva de Friedman", uma escala visual do trabalho de parto.
De origem humilde, nasceu nas favelas do Brooklyn, em Nova Iorque. Gostava de ler e lutou na Segunda Guerra Mundial a bordo de um navio da Marinha americana. Na época o governo americano oferecia o pagamento dos estudos aos soldados e veteranos, então decidiu se aproveitar disso para estudar Medicina, se graduando na universidade de Columbia em 1951.
A história que se segue agora parece um mash-up digno da Marvel e DC Comics. Acontece que ele era contemporânea da Dra. Virginia Apgar, outra gigante da obstetrícia, que o encontrou e numa conversa fez a pergunta que levaria o Dr. Friedman a criar o Partograma. Na época a Dra. Apgar estava estudando a analgesia de parto e questionou o Dr. Friedman como eles poderiam saber se a analgesia interferiria no andamento do trabalho de parto.
Ele percebeu que não se sabia quase nada na época sobre o progresso do trabalho de parto. Aquilo ficou na cabeça dele.
Numa noite o Dr. Friedman esta de plantão no Presbiterian Hospital quando sua esposa entrou em trabalho de parto em outra maternidade. Ele solicitou dispensa do plantão para poder estar presente no nascimento de seu primeiro filho, mas a chefia do hospital negou a dispensa. Frustrado, ele resolveu anotar numa tabela rabiscada num papel várias informações que fazem parte do trabalho de parto. Frequência de contrações, dilatação, afinamento do colo, posição e apresentação fetal, tempo etc. Pela manhã ele já tenha uma boa ideia de como seu gráfico se pareceria, percebendo que de todos esses fatores a dilatação cervical era a mais promissora para o acompanhamento do trabalho de parto, formando uma curva sigmóide (em formato de S). Ele acabara de descobrir as fases do trabalho de parto: latente, ativa e expulsiva. Ao final do plantão ele conseguiu chegar a tempo de ver seu filho nascer.

Suas descobertas tomaram o mundo da Obstetrícia de assalto e causaram uma revolução na maneira de acompanhar o progresso do trabalho de parto. Baseados em seus estudos surgiram termos como "parada secundária da dilatação" e "parada da descida" para descrever alterações no bom andamento das diferentes fases do trabalho de parto e, eventualmente, parto. A sua famosa curva sigmóide passou a ser utilizada para decisões mais precisas em obstetrícia, como o momento correto para uma cesárea. Foi como se ele tivesse feito um mapa que qualquer obstetra pudesse seguir.
Mas suas contribuições não pararam por aí. Em sua época era muito comum o parto fórceps num momento em que o bebê ainda estava a meio caminho de sair da pelve da mãe. Ele mesmo era um exímio operador de fórceps e havia feito muitos procedimentos do tipo, mas ao perceber que o fórceps "alto" - quando o bebê estava no meio da pelve - levava a um maior risco de danos neurológicos à criança, ele entrou numa cruzada contra esse tipo de procedimento, uma visão extremamente impopular em sua época mas que eventualmente acabou por sumir do mapa e abandonado.
Não há dúvidas hoje que o Dr. Friedman foi revolucionário, mas ele enfrentou muito resistência ao defender suas ideias tão impopulares para a época. Hoje o Partograma é ferramenta simples e extraordinária, obrigatória em qualquer maternidade, mas nem sempre foi assim.