
Volta e meia aparece no Instagram alguma paciente desesperada porque está com a gestação avançada e a única opção oferecida é a cesárea. No entanto, se o trabalho de parto não iniciou sozinho nós podemos induzi-lo a começar, dar um empurrãozinho na mãe natureza. Isso é especialmente interessante nos casos em que a gestante deseja muito um parto vaginal mas não deseja dor - é só iniciar a analgesia antes das contrações.
Nesse artigo vou apresentar algumas técnicas de indução do trabalho de parto. Dediquei uma parte só para as gravidinhas com uma cesárea de uma gestação anterior e agora desejam o parto vaginal. Como sempre, vou ficar muito feliz em responder suas dúvidas, em ao final do artigo deixe seus comentários e perguntas. Eu leio e respondo todo mundo.
Antes de tudo, o que é trabalho de parto?
Parece uma pergunta simples, mas existe muita confusão quando o assunto é trabalho de parto. Isso acontece porque existem mulheres que passam por horas de tortura com várias contrações sem nenhuma dilatação e outras com dilatação sem nenhuma contração. Existe trabalho de parto sem dilatação? Existe dilatação sem trabalho de parto? Sim, existe tudo isso e muito mais! Mas vamos por partes, ou melhor, por fases - as fases ou estágios do trabalho de parto.
Pródromos...
É uma fase não oficial em que aparecem um monte de contrações irregulares, com duração e intervalos variáveis. Diferente das contrações de treinamento, elas são doloridas na maioria das vezes e conseguem dilatar um pouco o colo, mas sem um ritmo de dilatação fixo. Podem durar desde algumas horas até alguns dias.
É um período muito difícil para a mulher, que sente as dores mas não vê progresso na dilatação. Muitas acabam preferindo a cesárea nesse momento ou algum tipo de alívio da dor, que não passa com remédios comuns. Mas se ela tiver paciência essa fase passa e se inicia o trabalho de parto propriamente dito
Dicas:
- para aliviar um pouco as dores você pode usar a água quente do chuveiro ou do banheiro, ou mesmo uma bolsa de água quente.
- massagem vigorosa na região lombar durante as contrações também costuma ajudar bastante!
- fique de olho nos movimentos do seu bebê. Eles podem diminuir, mas não devem parar.
- não deixe de comer e se hidratar! Prefira alimentos de digestão fácil e em pequenas porções.
- faça um controle das contrações anotando num papel o horário de início e fim de cada uma. Existem aplicativos para celular que fazem isso por você e deixam sua vida mais fácil.
1º estágio: fase latente e fase ativa
Consideramos que esse estágio se inicia quando as contrações estão chegando a cada 3 a 5 minutos.
Na fase latente a dilatação ainda não tem um bom ritmo, mas já se iniciou. Essa fase pode durar várias horas. Já na fase ativa essa dilatação segue uma progressão mais ou menos certa, de 1 a 2 centímetros por hora, sendo mais lento nas pacientes que nunca tiveram uma dilatação antes. É a fase mais dolorida, com contrações intensas de até 90 segundos cada 2 minutos. Geralmente começar entre 4 e 6 centímetros de dilatação.
Dicas:
- é muito comum vomitar bastante no final da fase ativa, perto dos 8 cm de dilatação, por isso evite comer ou beber muito. Prefira água e alimentos sem pedaços, como gelatina e sorvete.
- caminhar e se movimentar ajudam muito nesse período.
- evite ficar só deitada, preferindo ficar de pé ou sentada.
- não precisa fazer força! Além de não ajudar pode deixar você mais susceptível a lacerações.e
- nessa fase o toque vaginal não precisa ser realizado num intervalo menor que 2 horas
- o bem-estar fetal deve ser checado a cada 30 minutos aproximadamente, ouvindo o coração com um sonar. O ideal seria um acompanhamento contínuo da frequência cardíaca fetal, mas nem todos os lugares tem estrutura para isso.
- as dicas para controle de dor do estágio anterior continuam valendo!
- você pode optar passar por esse estágio sem dor alguma com a ajuda da analgesia peridural.
2º estágio: dilatação total - o período expulsivo
Pronto, você alcançou a dilatação total de 10 centímetros e abriu totalmente a passagem para o bebê começar a nascer. O nome desse estágio é bastante sugestivo - o útero "expulsa" o bebê pra fora. As contrações seguem bastante intensas e doloridas, e começam a empurrá-lo para fora um pouquinho de cada vez. Pode durar de 1 a 3 horas.
Dicas:
- só faça força se o seu corpo "pedir";
- você sabia que existem várias posições diferentes para fazer seu parto? Uma rápida olhada no Google pode te surpreender. Talvez uma outra posição pode ser mais confortável pra você.
- se tiver curiosidade, peça ao seu obstetra ou assistente para permiti-la sentir a cabeça de seu bebê nascendo.
- nesse estágio o bem-estar fetal deve ser checado a cada 5 minutos.
- a bolsa pode não ter rompido! O seu obstetra ou assistente pode ter que romper a bolsa nesse momento.
3º estágio: dequitação ou "nascimento" da placenta
Depois que o bebê nascer o parto ainda não acabou!! Enquanto você está lá curtindo seu bebê as contrações continuam mais um pouquinho para expulsar a placenta, um processo que chamamos de dequitação. Não dói tanto quanto um bebê nascendo, mas incomoda um pouco, principalmente se tiver lacerações. Pode demorar até 30 minutos.
Dicas:
- não precisa mais fazer força!
- é possível que seu obstetra tenha que massagear seu útero para que a placenta saia.
4º estágio: Período de Greenberg
Também é um estágio não oficial mas muito praticado. Nessa fase você deve estar amamentando e feliz da vida, porque o bebê já nasceu e a placenta já saiu. Não existem mais contrações, no máximo uma cólica leve. Então o que acontece nesse período? Vigilância materna - esse é o período de 1 hora imediatamente após a saída da placenta em que se deve manter uma vigilância constante sobre a mãe para identificar riscos de sangramento/hemorragia e até convulsão!
Dicas:
- relaxe, o parto acabou.
- seu companheiro(a) pode ser muito útil nesse momento, chamando a equipe de enfermagem ou médicos caso você se sinta mal ou repare que existe uma poça de sangue se formando.
Induzindo o trabalho de parto
Até pouco tempo atrás eu acreditava que as contrações uterinas eram estimuladas, mas em 1995 descobriu-se que na realidade o útero tem uma tendência a contrair sozinho, e o trabalho de parto na realidade é a retirada de fatores naturais que inibem esse trabalho de parto. Eles pegaram uma tirinha de músculo de um útero no final da gestação e colocaram dentro de uma solução sem hormônios, só com o suficiente para as células sobreviverem e adivinha só, aquela tirinha ficava contraindo e se retorcendo loucamente.
Em algumas mulheres o trabalho de parto não se inicia espontaneamente (não é culpa do bebê!) e precisamos dar uma ajudinha. Mas antes da indução propriamente dita precisamos avaliar as condições do colo do útero para decidir que técnicas iremos utilizar.
Avaliação do Colo do Útero
Dividimos entre os colos favoráveis e os desfavoráveis baseado numa escala desenvolvida pelo Prof. Dr. Edward Bishop, em 1964. Na época ele percebeu que algumas pacientes que recebiam a ocitocina para estimular as contrações evoluíam no trabalho de parto de maneira muito satisfatória, enquanto outras não tinham tanta sorte. Baseado em suas observações, ele desenvolveu o que conhecemos hoje por Escala de Bishop para decidir se vale a pena ou não já começar com as contrações. Se o colo do útero for desfavorável, ou ter um Bishop baixo, é melhor passar por uma fase de preparo do colo antes. Se for favorável, ou um Bishop elevado, pode-se iniciar as contrações do trabalho de parto.
Fase de preparo do colo uterino
Está indicada nas pacientes com colo uterino desfavorável e possui muitas técnicas diferentes, com suas vantagens e desvantagens. Também existem muitos protocolos com diferentes linhas de pensamento, então não vou entrar em detalhes. Saiba apenas que essa fase pode durar dias, você provavelmente não terá contrações e pode chegar a uma dilatação de até 4 ou 5 centímetros.
As principais técnicas são as seguintes:
Misoprostol vaginal ou oral.
Cateter com balão endocervical (técnica de Krause).
Dinoprostone vaginal, oral ou endocervical.
Indução do Trabalho de Parto propriamente dito
Finalmente!! Depois de tanta ladainha chegou o momento de sentir algumas contrações. Lembre-se, trabalho de parto exige contrações, e o único meio seguro de obter essas contrações é através de um hormônio sintético chamado ocitocina.
Esse hormônio é quimicamente igual ao hormônio produzido naturalmente pelas mamães em trabalho de parto. Por muito tempo ele foi usado de maneira errada e abusiva por médicos inescrupulosos que viram uma chance de acelerar um trabalho de parto para benefício e comodidade pessoal, o que contribuiu para a má fama desse medicamento. A verdade, no entanto, não poderia ser mais diferente. Usado com parcimônia e da maneira correta, é uma ferramenta importante no arsenal médico e não precisa ser temida.
O trabalho de parto induzido por ocitocina, assim como o natural e espontâneo, deve ser acompanhado o tempo todo por um obstetra ou assistente qualificado para se garantir a segurança do processo. Ele irá continuar até o final do 3º estágio, com a saída da placenta.
Conclusão
Não precisa ter medo da indução do trabalho de parto. Ele não é mais dolorido que o normal e nem mais perigoso se for realizado da maneira correta. Precisa sim é de paciência, principalmente se for necessário a preparação do colo uterino, que pode demorar bastante tempo.
Deixem seus cometários e dúvidas abaixo. Eu vou responder todo mundo!
Primeiro parto cesáreo, esse foi natural e não tive nenhuma laceração, rsrsrs confesso que fiquei adiando a ida ao banheiro, pensando na dor que ia sentir, mas não senti nada. Porque acontece de não ter laceração?
Obs: Bebê nasceu com 3,30kg e 49,5cm